Quantcast
Channel: Quer um parto Normal? Pergunte-me como! » Marília Mercer
Viewing all articles
Browse latest Browse all 7

Julgando o Parto – Por Rachel Reed

$
0
0

Este post é um pouco diferente que meus posts habituais (peço desculpas para aqueles que querem algo de fisiologia e links para pesquisa). Em vez disso, eu escrevi sobre algo que continua aparecendo nas minhas conversas com mães e profissionais ligados ao parto. Eu estou interessada em outras perspectivas e opiniões – por isso, por favor, comente e deixe-me saber seus pensamentos. O post é basicamente sobre meus próprios pensamentos em como julgamos a nós mesmos e o parto.

Comportamento no Parto

http://amandagreavette.com/

http://amandagreavette.com/

O comportamento da mulher foi julgado e controlado ao longo da história. Nós devemos ser “boas meninas” – fazer o que é dito e não criar problemas para os outros. No entanto, o ato de dar à luz é primordialmente ‘selvagem’. Nosso comportamento durante o parto se origina no sistema límbico, a área do cérebro partilhada por todos os mamíferos. Para que o trabalho de parto corra bem precisamos fechar nosso neo-córtex – a parte pensante do cérebro humano. O resultado é o instintivo comportamento “animalesco” durante o parto. Porque somos indivíduos, o nosso comportamento no parto também é individual. Algumas mulheres tornam-se tranquilas, retiradas e “no controle”. Outras se tornam ‘fora de controle’ e selvagens. Muitas ficarão no caminho do meio, ou em ambos os comportamentos, em diferentes momentos durante o trabalho de parto. Assim como em nosso comportamento durante o sexo (também controlado pelo sistema límbico) há semelhanças entre os seres humanos, mas todos nós nos comportamos de forma ligeiramente diferente.

A ideia de que há uma maneira “certa” para se comportar, ou pior, uma forma “errada” de se comportar é inútil e julgadora. Parece que estar quieta e “controlada” é considerada a melhor maneira de se comportar durante o trabalho de parto. Quantas vezes você já ouviu o trabalho de parto de uma mulher descrito de uma forma positiva, porque ela era “tão controlada e calmamente respirou seu bebê para fora”? Em contraste, a mulher mais ‘selvagem’ é encorajada a respirar (ou seja, parar de ficar gritando) e ter foco. Isso acontece muitas vezes em ambiente hospitalar, onde enfermeiras e médicos tentam manter uma mulher calma, para não “assustar as outras mulheres”. Essas mulheres são frequentemente descritas como “não cooperativas” – quando na verdade eles estão cooperando muito bem… E em voz alta. São aqueles em torno delas que não estão ajudando. Michel Odent sugere que o medo intenso e sentimento de “fracasso” muitas vezes experimentado perto do fim do trabalho de parto facilita o reflexo de ejeção fetal. Não são muitas mulheres que experimentam isso, porque as parteiras (ou outros) intervêm para acalmar a mulher e ajudá-la a ganhar o controle de si mesma.

Não são apenas as parteiras, mas também as mães que julgam “perder o controle” por fazerem barulho. Acho triste ouvir uma parturiente pedir desculpas por seu comportamento instintivo – mas eles fazem. Na verdade, há programas de preparação para o parto visando aprender a ser calma e ter o controle durante o nascimento. Infelizmente, algumas mulheres que se submeteram a esta formação se sentem fracassadas quando seus instintos afloram e elas se tornam vocais e gritam. Talvez nós (sociedade/cultura) tenhamos medo do poder primordial expresso durante o parto – aqui está uma mulher conectada ao imenso poder e força da mulher se expressando. A resposta que ela recebe é que se cale e a incentivam a agir como uma “boa menina” de forma a não perturbar ninguém (incluindo ela mesma).

Aqui está um belo exemplo de uma mãe dando à luz instintivamente e em voz alta:

Então, vamos honrar o nosso comportamento no parto seja ele qual for. Se você é calma e suspira durante o trabalho de parto, ou se é selvagem e grita alto – vocês são iguais, mas incrivelmente diferentes. Parteiras precisam aprender a distinguir entre uma mulher que está expressando seus instintos selvagens de parto, de uma mulher que realmente necessita de tranquilidade e calma. Falar com ela antes do nascimento sobre o que ela vai dizer se ela realmente precisa “ajuda” pode ser útil. Além disso, certifique-se que ela sabe que você não vai julgar qualquer coisa que ela diz ou faz durante o parto. Também é importante que as mulheres ouçam e vejam histórias de nascimento que mostram uma série de comportamentos de parto – e não apenas o silêncio e certos tipos de controle.

Escolhas de Parto e Experiências

amy1

Amy Swagman: http://themandalajourney.com

As mulheres também são julgadas (e julgam a si mesmas) em suas escolhas sobre o  parto. Aqui você realmente não pode vencer. Se você escolher uma cesariana eletiva sem nenhuma razão médica – você será julgada. Se você optar por um parir seu bebê em sua casa – você será julgada. E para cada escolha de nascimento os outros terão uma opinião e julgamento sobre o que você faz, ou não faz. Não há uma maneira “certa’ de nascimento. Para mulheres e bebês saudáveis um nascimento fisiológico e humanizado é, provavelmente, a opção mais segura em termos de resultados. No entanto, algumas mulheres não querem isso – ou são incapazes de ter isso – ou são levadas a acreditar que não podem ter isso. Qualquer escolha sobre o parto deve ser feita com base em uma avaliação dos riscos e benefícios, e sua própria situação e necessidades devem ser respeitados. O foco deve ser em garantir que as mulheres tenham acesso à informação adequada sobre a qual basear a sua escolha – não sobre a própria escolha.

Como o parto aparece no papel pode ser muito diferente de como foi percebido pela mãe. Aprendi rapidamente como parteira de uma comunidade fazendo consultas pós-parto que o “relatório de parto” da maternidade não tinha nenhuma conexão com as percepções da mulher de seu parto. Algumas mulheres que tiveram experiências como ‘falha no uso do fórceps’ e depois precisaram de uma cesariana pareciam se sentir muito fortalecidas e mais do que felizes com a sua experiência. Por outro lado, algumas mulheres que tinham experimentado partos vaginais “normais” sem intervenção poderiam estar traumatizadas. Acho que é melhor é perguntar a uma mulher como ela se sente sobre o seu parto, em vez de fazer suposições baseadas nos eventos. Os sentimentos estão muito mais ligados com cuidado e respeito recebidos no momento do parto, ou a falta deles.

Cada experiência de parto é válida – mesmo aquelas que não saem como o esperado ou planejado. A aprendizagem é uma coisa maravilhosa, e muitas vezes olhamos para trás e desejamos ter conhecido a pessoa X porque não teria feito a escolha Y e acabado como as mulheres Z. Muitos escolhem um parto domiciliar com base em uma experiência de parto anterior, e que fazendo uma retrospectiva poderia ter sido muito diferente. É só por causa dessa experiência anterior que eles exploraram e aprenderam sobre o nascimento e sobre si mesmos. Essa experiência anterior decepcionante (e em alguns casos traumática) forneceu a base para o crescimento pessoal.

Às vezes, o parto não sai como o planejado, porque se deixasse ele acontecer naturalmente, por causa de alguma intercorrência, o resultado seria ruim. Intervenção adequada e no momento certo podem e devem salvar mulheres e bebês. No entanto, a mulher é muitas vezes levada a duvidar de seu corpo e pode então julgar a si mesma e sua experiência de parto como um “fracasso”. Estive recentemente discutindo esta questão com Pernille minha linda amiga Doula. Seus insights sobre este assunto são interessantes e gostaria de compartilhá-los (por favor, Pernille, deixe-me saber se estou te interpretando mal). Para estas mulheres, a escolha de intervenção em uma hora em que era realmente necessária pode representar a expressão máxima da maternidade. Por exemplo, permitir que abram o seu próprio corpo para salvar seu bebê certamente é a personificação da maternidade.

Resumo

Não existe nenhuma maneira “correta” de nascer, ou de se comportar durante o parto. Como mulheres e mães já somos submetidas a julgamentos mais que suficientes dos outros e de nós mesmas. Talvez seja a hora de começarmos a acolher e tratar com carinho, como se estivéssemos no lugar umas das outras.

Fonte: http://midwifethinking.com/2011/04/09/judging-birth/
Tradução livre por Marilia Mercer.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 7